Guarujá Inicia Batalha pela Preservação de Seus Tesouros Históricos: Ermida do Guaibê e Forte São Felipe em Foco

Guarujá Inicia Batalha pela Preservação de Seus Tesouros Históricos: Ermida do Guaibê e Forte São Felipe em Foco

Guarujá Inicia Batalha pela Preservação de Seus Tesouros Históricos: Ermida do Guaibê e Forte São Felipe em Foco

Guarujá, SP – Em um movimento estratégico e de grande importância para a memória e o futuro da cidade, a Prefeitura de Guarujá deu início a uma série de ações coordenadas para a preservação de dois dos mais significativos patrimônios históricos da região: as ruínas da Ermida do Guaibê e do Forte de São Felipe. A iniciativa, que visa resgatar a grandiosidade desses locais e garantir sua sobrevivência para as futuras gerações, envolve um esforço conjunto de diversas secretarias municipais e busca estabelecer um diálogo crucial com os governos Estadual e Federal.

A visita técnica, realizada neste mês de julho, contou com a participação de representantes das Secretarias de Cultura (Secult), Turismo (Setur), Operações Urbanas (Seurb) e Meio Ambiente (Semam). O objetivo central dessa expedição não foi apenas o reconhecimento da situação atual desses monumentos, mas, sobretudo, o pontapé inicial para as tratativas formais com o Governo do Estado de São Paulo, visando a obtenção de apoio e recursos para a manutenção e recuperação desses bens históricos inestimáveis.

A Urgência da Preservação e o Apelo do Ministério Público

A mobilização da Administração Municipal de Guarujá não surge por acaso. Trata-se de uma resposta direta e proativa a uma solicitação formal do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), que há tempos tem manifestado preocupação com o estado de conservação dessas estruturas históricas. A atenção do MPSP sublinha a gravidade da situação e a necessidade urgente de intervenções.

Em um sinal claro de compromisso e agilidade, as secretarias municipais envolvidas já deram início às primeiras ações práticas. Na Ermida do Guaibê, por exemplo, equipes de limpeza e capinação atuaram intensamente para desobstruir e tornar o local mais acessível. Simultaneamente, registros fotográficos detalhados foram realizados tanto na Ermida quanto no Forte de São Felipe. Essas evidências visuais serão anexadas à comunicação oficial a ser enviada ao Ministério Público, reforçando o empenho da Prefeitura em atender às demandas e em dar os passos necessários para a recuperação desses sítios.

A demonstração de compromisso é fundamental para estabelecer uma relação de confiança com os órgãos fiscalizadores e para angariar o apoio necessário para projetos de maior envergadura. A degradação desses patrimônios não afeta apenas a história, mas também o potencial turístico e educacional de Guarujá, tornando a ação da prefeitura um investimento no futuro da cidade.

Desafios e a Complexidade do Forte São Felipe

Enquanto a situação da Ermida do Guaibê começa a ser endereçada com as ações iniciais de limpeza, o cenário no Forte de São Felipe apresenta desafios significativamente maiores. O local encontra-se em um estado avançado de degradação, praticamente engolido pela vegetação densa. Essa cobertura vegetal não só dificulta o acesso e a visualização da estrutura original, como também pode estar causando danos irreversíveis às ruínas, com raízes penetrando nas antigas paredes e comprometendo a integridade da construção.

A complexidade da situação do Forte São Felipe é agravada pela questão fundiária. A titularidade da área não é homogênea: uma parte pertence à União e outra ao Estado de São Paulo. Essa divisão de responsabilidades exige uma articulação e colaboração intergovernamental sem precedentes. Para que medidas de recuperação mais amplas e definitivas possam ser implementadas, será imperativo que as três esferas de governo – Municipal, Estadual e Federal – sentem à mesa, alinhem interesses e estabeleçam um plano de ação conjunto. A burocracia e a multiplicidade de interlocutores podem ser um obstáculo, mas a determinação da Prefeitura de Guarujá em superar esses entraves é evidente.

Um Compromisso Renovado com a História e a Cultura

O secretário de Cultura de Guarujá, em declaração que ressoa o compromisso da atual gestão, enfatizou a importância dessas ações. “A atual gestão segue atuando e resgatando a manutenção do patrimônio histórico e cultural de nossa cidade. A região onde estão localizados a Ermida do Guaibê, considerado o maior sítio arqueológico da região, e o Forte São Felipe estão recebendo a devida atenção e os serviços de manutenção”, afirmou o titular da pasta.

Essa declaração reforça a visão de que a preservação do patrimônio não é apenas uma questão de responsabilidade, mas um pilar para a construção da identidade e do orgulho local. A valorização desses monumentos não só resgata o passado, mas também contribui para a atratividade turística da cidade, gerando impacto econômico e social positivo. A Ermida do Guaibê, em particular, com sua designação como o maior sítio arqueológico da região, detém um potencial imenso para estudos, pesquisa e turismo cultural.

Retratos do Passado: A Ficha Técnica dos Monumentos

Para entender a relevância desses sítios, é fundamental conhecer sua história e sua função no passado.

Forte São Felipe: Sentinela do Litoral Paulista

Localizada no extremo norte da Ilha de Santo Amaro, a estrutura que hoje conhecemos como Fortaleza de São Felipe ou, em algumas referências históricas, Forte de São Luiz, foi erguida em 1765. Sua construção foi uma ordem direta do então governador da Província, Morgado de Mateus, que reconheceu a importância estratégica do local para a defesa da costa.

A principal função do Forte de São Felipe era atuar em conjunto com o Forte São João, situado no território da vizinha Bertioga. Essa dupla de fortificações criava um ponto de cruzamento de fogo, essencial para combater e deter invasores que tentassem acessar a região pelo mar. Era uma linha de defesa vital para a segurança da Capitania de São Vicente.

Mesmo em 1860, mais de um século após sua construção, o comandante José Olinto de Carvalho teceu elogios à Fortaleza de S. Luiz, mesmo ciente de que a obra estava inacabada e, àquela altura, servia predominantemente como Casa de Pólvora. A resiliência e a engenharia da época permitiram que a estrutura mantivesse sua relevância, mesmo com as limitações. Atualmente, a visão é de desolação: o forte encontra-se quase que totalmente tomado pela vegetação, uma triste paisagem para um monumento de tamanha importância histórica. A recuperação do Forte São Felipe não é apenas uma questão de preservar pedras, mas de resgatar uma parte fundamental da história militar e de defesa do Brasil colonial.

Ermida do Guaibê: Berço da Fé e da Educação Jesuítica

No extremo Norte da Ilha de Santo Amaro, ergue-se (ou o que resta dela) a Ermida de Santo Antônio do Guaibê. Sua construção remonta a aproximadamente 1560, por mando de José Adorno, um notável personagem que chegou ao Brasil na armada de Martim Afonso de Sousa. Este local, carregado de espiritualidade e história, era de vital importância para a Companhia de Jesus no Brasil.

A Ermida do Guaibê era utilizada pelos jesuítas, principalmente, para a catequização dos indígenas da região. Era um centro de evangelização e educação, onde os missionários buscavam converter as populações nativas e integrar suas culturas à fé cristã. Entre os ilustres jesuítas que frequentaram a Ermida, destaca-se o Padre José de Anchieta, figura central na história do Brasil colonial. Relegada à lenda, mas com forte base histórica, é dito que foi ali, na tranquilidade do Guaibê, que Anchieta teria composto seu célebre poema “Milagre dos Anjos”, uma obra-prima da literatura brasileira primitiva.

Um detalhe que ilustra a dispersão do patrimônio histórico é o paradeiro do cruzeiro de pedra do século XVI, que originalmente pertencia à capela. Hoje, essa peça encontra-se exposta no Museu do Ipiranga, em São Paulo, evidenciando a necessidade de um esforço conjunto para a reunião e valorização do acervo histórico da região. A recuperação da Ermida do Guaibê oferece a oportunidade de reconstituir um capítulo fundamental da história religiosa e social do Brasil.

A iniciativa da Prefeitura de Guarujá representa um passo crucial para a preservação de sua identidade histórica e cultural. O caminho é longo e desafiador, especialmente no que tange ao Forte São Felipe e à necessidade de articulação entre as esferas de governo. No entanto, o compromisso demonstrado pela administração municipal e a urgência imposta pelo Ministério Público criam um cenário favorável para que esses tesouros do passado voltem a brilhar e a contar suas histórias para as gerações futuras. O resgate desses patrimônios não é apenas uma questão de dever, mas um legado de valor inestimável para Guarujá e para todo o Brasil.

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