Check-in mais tarde, check-out mais cedo: mudança real ou impressão dos hóspedes?

Horários de check-in e check-out estão mudando?

Horários de check-in e check-out estão mudando?
Check-in mais tarde, check-out mais cedo: mudança real ou impressão dos hóspedes?

Se você já reclamou ou leu nas redes sociais sobre a sensação de que os hotéis estão cada vez mais exigindo check-ins tardios e check-outs antecipados, saiba que você não está sozinho. Essa percepção tem se tornado comum tanto entre viajantes experientes quanto casuais. Mas afinal, os horários dos hotéis mudaram mesmo? E se mudaram, por quê?

A resposta envolve uma combinação de fatores, desde mudanças estruturais no setor de hospitalidade até transformações legais e operacionais impulsionadas por eventos recentes, como a pandemia de Covid-19. Neste artigo, vamos explorar em profundidade como e por que os horários de entrada e saída dos hotéis estão sendo ajustados no Brasil e no mundo, e o que os hóspedes devem esperar daqui para frente.

A nova dinâmica dos horários em hotéis

Tradicionalmente, os horários de check-in e check-out em hotéis giravam em torno das 12h para entrada e 12h para saída. Essa prática tinha como objetivo garantir o tempo adequado para limpeza e arrumação dos quartos entre um hóspede e outro. No entanto, essa “janela de transição” tem sido cada vez mais estendida – o que significa que hóspedes estão sendo convidados a entrar mais tarde e sair mais cedo.

Nos Estados Unidos, essa mudança é visível e confirmada por especialistas. Jeffrey Lolli, professor da Universidade Widener e especialista em hospitalidade, afirma que a tendência começou antes da pandemia, mas se acelerou nos anos seguintes. “Os hotéis enfrentaram demissões em massa durante a crise sanitária e agora enfrentam dificuldades para contratar novamente, especialmente para funções operacionais como camareiras e arrumadeiras”, declarou ao site Thrillist.

Menos funcionários, mais tempo para arrumar

De acordo com dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA, há 102 mil trabalhadores a menos no setor de governança hoteleira hoje do que antes da pandemia. Esse número afeta diretamente a velocidade com que os quartos podem ser preparados para novos hóspedes.

Isso tem levado muitos hotéis, principalmente os de perfil econômico, a adotar práticas que aumentam o intervalo entre check-out e check-in. Afinal, menos funcionários disponíveis significam mais tempo necessário para higienizar e arrumar os quartos – um processo que se tornou ainda mais criterioso após a Covid-19.

Um gerente de hotel relatou, em um fórum no Reddit, que seria necessário dobrar a equipe para atender a todos os quartos no tempo anteriormente estipulado. Em vez disso, a gestão optou por manter a equipe reduzida e ajustar os horários de entrada e saída.

Luxo x economia: diferenças operacionais

Nos hotéis de luxo, a realidade é outra. Com equipes maiores e estruturas mais robustas, a arrumação dos quartos pode acontecer diariamente – e, em alguns casos, até mais de uma vez por dia. Por isso, os horários costumam ser mais flexíveis, e o impacto das mudanças pós-pandemia é menor.

Essa diferença levou sindicatos de trabalhadores do setor, especialmente nos Estados Unidos, a promover campanhas pedindo o retorno da faxina diária em todos os níveis de hospedagem. A medida seria uma forma de preservar empregos e melhorar a experiência dos hóspedes, além de questionar a narrativa de que a ausência de limpeza diária seria um “benefício” ao consumidor.

Alternativas surgem no mercado

Com a mudança de comportamento dos consumidores e a busca por experiências mais personalizadas, muitos hotéis têm adotado estratégias alternativas. A rede butique Standard, do grupo Hyatt, oferece desde 2016 a possibilidade de o hóspede escolher seus horários de check-in e check-out – mediante pagamento adicional.

Outras redes, como a inglesa Hoxton e a chinesa Peninsula, vão além e oferecem esse serviço de forma gratuita, contanto que a reserva seja feita diretamente pelo site oficial.

Na era da tecnologia, surgem ainda soluções como o aplicativo Dayuse, que conecta hóspedes a hotéis por períodos curtos de estadia – ideal para quem precisa de poucas horas de descanso. Já a startup indiana Brevistay comercializa hospedagens por hora, permitindo ao cliente escolher entre três, seis ou doze horas, em vez de pagar uma diária completa.

E no Brasil, como está a situação?

Por aqui, a percepção de check-ins mais tarde e check-outs mais cedo também existe. E em 2024, essa impressão ganhou respaldo legal. Com a atualização da Lei do Turismo, os estabelecimentos passaram a ter liberdade para definir seus próprios horários de entrada e saída, desde que respeitem um período de 22 horas de hospedagem por diária.

Para Marcos Vilas Boas, presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo), a atualização traz segurança jurídica para práticas que já vinham sendo adotadas no setor. “A nova legislação formaliza uma tendência do mercado, que já trabalhava com períodos inferiores a 24 horas por diária, considerando a necessidade de arrumação e limpeza entre as hospedagens”, afirma.

Essa flexibilização permite que cada hotel defina seus horários conforme sua realidade operacional e o perfil de seus clientes. Hotéis que atendem a famílias com crianças, por exemplo, podem ter horários diferentes daqueles voltados ao público corporativo.

Impacto da pandemia e adaptação do mercado

Não há um levantamento oficial que comprove que todos os hotéis estão impondo horários mais restritivos. Contudo, é consenso no setor que a pandemia impactou profundamente a forma como a hotelaria opera.

Segundo Vilas Boas, “a necessidade de protocolos sanitários mais rígidos e a redução de funcionários afetaram especialmente os pequenos e médios estabelecimentos, forçando mudanças operacionais como o ajuste nos horários de entrada e saída”.

Além disso, muitos hotéis passaram a oferecer early check-in ou late check-out como serviços adicionais pagos – uma forma de atender à demanda dos hóspedes por mais flexibilidade e, ao mesmo tempo, gerar receita extra.

O que esperar daqui para frente?

Com a consolidação de novas tecnologias e a crescente busca por personalização na experiência de hospedagem, é provável que vejamos mais iniciativas nesse sentido. Hóspedes dispostos a pagar um pouco mais terão mais liberdade para escolher seus horários, enquanto outros precisarão se adaptar às regras de cada hotel.

Ainda assim, é importante que o consumidor esteja atento aos detalhes no momento da reserva. Conferir horários de check-in e check-out, políticas de cancelamento e eventuais taxas extras pode evitar surpresas desagradáveis.
A sensação de que os hotéis estão impondo horários de check-in mais tarde e check-out mais cedo não é apenas uma impressão, mas sim reflexo de mudanças reais no setor hoteleiro global e nacional. Com menos mão de obra disponível, maior rigor nos protocolos de limpeza e um mercado cada vez mais competitivo, os estabelecimentos buscam formas de se adaptar, mantendo a eficiência operacional e a satisfação dos clientes.

A boa notícia é que a flexibilidade veio para ficar – ainda que, muitas vezes, ela custe um pouco mais. Para o hóspede, a dica é simples: planejamento e comunicação clara com o hotel escolhido continuam sendo os melhores aliados de uma boa experiência de viagem.

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